Chegou o Verão e com ele todo o caos inerente e típico do Algarve, nesta altura: as filinhas interminávais para aqui e para ali; carros estacionados em 2ª e 3ª fila; os carrinhos dos supermercados atufalhados até ao cimo conduzidos por pessoas desvairadas; as típicas idas ao Centro de Saúde no final do dia, depois da praia, do banho e do jantar, com maleitas e agravos imaginários.
As belas praias algarvias enchem se de chapéus de sol de todas as cores e tamanho e por baixo destes as toalhas, as geleiras, as raquetes, o colchão insuflavel, as braçadeiras para "os meninos" mais as pázinhas e os baldinhos e também a avó, que não pode apanhar sol (porque já está velhinha, coitadinha) mas que baixa as alças do fato de banho para bronzear os ombros, enquanto faz renda e espia os netos por cima dos óculos. Ao redor do sombrero, espalham -se mais ou menos de forma concêntrica a família interminável: com os putos a correrem e a encherem de areias as pessoas num raio de 1km que acabaram de sacudir a toalha e passarem protector e com alguns familiares que já tinha idade para dar o exemplo mas passam boa parte do tempo a malharem com os costados na areia molhada numa tentativa de darem mortais encarpados para a água.
No outro dia tive MESMO que ir ás compras. Confesso que nessa altura tenho um pavor mortal de entrar em qualquer superfície comercial. Encho me de suores frios e de neuras manhosas só de imaginar a possibilidade de andar a chocar com o meu carrinho com as rodas empenadas e cheio de vontades próprias nas canelas de veraneantes mais distraídos que fazem as compras em fato de banho. Então, depois de muito ponderar, lá me decidi que iria fazer as minhas necessitadas compras não numa tarde de sábado ( "porque deve haver imensa gente e não tenho paciência para isso") mas sim, num domingo de manhã, partindo do príncipio lógico e racional que numa bela manhá dominical de sol e calor, as pessoas haveriam de estar a tostar ao sol e não a fazer compras.
Saio de casa, ás 10h de um domingo, alegre e feliz da vida, a cantar e a assobiar, com o braçinho de fora, enquanto mentalmente fazia a lista do que precisava. As vontadinhas de cantorias passaram me logo no momento em que entrei no parque de estacionamento do supermercado e me apercebi que não havia lugares e apenas estavam na rua 3 ou 4 carrinhos para as compras. WTF?!!! Porque é que não estão todos a banharem-se nas águas calientes do algarve? Porque não estão todos a tomar o pequeno almoço numa esplanada, a comerem Dons Rodrigos ou bolinhos de maçapão recheados com doce de ovos? A fazerem palavras cruzadas ou embrenhados numa maratona de Sudoku? Ide... Levai lá os vossos chapéuzinhos de sol a tiracolo (os mais machistas podem delegar essa tarefas para as esposas e irem assobiando descontraidamente, de mãos nos calçoes até chegarem á praia porque afinal, ela até já vai carregada com o saco de praia, a geleira e a tentar segurar os putos, não lhe custa muito também levar mais uma coisa), calçai as vossas havaianas e ide-vos deleitar e derreter sobre o aconchegante sol do sul do país. De passagem, levai também as vossas criançinhas endemoniadas e birrentas que deixam um rasto de destruição e areia por onde passam e libertai as superficies comerciais, as padarias e os talhos. Afinal, foi para isso que vierem para cá... Certo?
Já suspeitava que me ia irritar um bocadinho... só um bocadinho, coisa pouca. Fiz as minhas parcas compras tentando não me incomodar com a barulheira infernal do ambiente, conduzindo habilmente um carrinho manco e enquanto esperava que duas famílias que impediam a livre circulação de trânsito acabassem a conversa que tinha entabulado entre as melãncias e a carne para o churrasco, vim a saber que a cunhada de uma não pode vir este ano de férias porque tinha "tido o menino há pouco tempo" e que o sogro de outra tinha sido operado de urgência á apêndice. Certamente teria ficado a saber mais segredos cabeludos destas duas famílias tipicamente portuguesas, se não tivesse educamente pedido para me deixarem passar.
As filas nas caixas de pagamento, que numa altura normal do ano, já são assim coisinhas horripilantes, nesta altura batem todos os records. Hão de haver sempre em todo o lado aquela espécie de pessoas que se consideram mais espertos que o comum dos mortais e deixa o carrinho a marcar lugar, guardado pelo puto e vão acabar de fazer as compras. Graças a Deus, nesse dia, não me tocou nenhum desses, mas na fila da caixa ao lado, o fenómeno estava a acontecer.
A manhã infernal de compras foi rematada em beleza por duas criaturas muito penteadinhas, de risco ao lado, com uns papelinhos numa mão e uma espécie de pochette na outra,com aquelas roupinhas típicas de quem vai-ver-a-Deus, que vim a descobrir estavam encostados no meu carro e deduzi acertadamente que iam tentar impingir me uma merdice qualquer. Enquanto metia as compras no porta bagagem do carro, eles tentavam aliciar me para uma nova religião, alegando a omnipresença de Deus e ameaçando me com os caminhos sinuosos e tortuosos para o inferno (lá acharam que eu tinha cara de pecadora... o numero da besta já eu o tenho...no telemovel...será que conta?) .
-"Não acredita em Deus, menina?"- perguntaram me, já no fim, porque sinceramente não sei que deduções eles tiraram dos meus hum-hums e acenos de cabeça ocasionais.
-"Olhe, da maneira que isto está hoje ( e apontei para o supermercado) já não acredito é em nada..."
Fechei o porta-bagagens, meti-me no carro e abram alas para o Noddy que já cumpri a minha pena este fim de semana.
Verão que é verão não podia estar completo sem as summer-partys e o MantaBeach. Este ano confesso que ainda não pus lá as patinhas. Quer dizer... as patinhas até lá estiveram, mas a kilometros de distância da entrada, integradas numa fila descomunal que se me afigurava estar ali para durar. Quando o segurança começou a avisar que a lotação da casa estava quase cheia e que só por obra e milagre de Deus aceitavam mais pessoas, pegei nas minhas lindas patinhas, dei meia volta com elas, pu las a carregar nos pedais do carro e fui menear o esqueleto para outras bandas. Eu sei... eu sei que a tia Maya sentiu a minha falta, que desiludi os fãs e que certamente os fotógrafos deram todos pela minha ausência( afinal, do que viveriam eles se não vendessem fotografias minhas sempre de olhos fechados?) mas desculpem me lá se não tenho connects no jet7, se não tenho o nome nas guest-lists (mais umas paneleirices quaisqueres) e se me fartei de esperar mais de 15 minutos para pagar e entrar para um sítio a abarrotar de gente. Da minha parte, não fiquei com muita vontade de lá voltar.
Até ao final (quase oficial) de mais um verão, restam 3 semanas. Pode ser que tenha tempo ainda para me ir bronzear um bocadinho, já que perdi o lindo tom dourado que tinha adquirido em Junho. Agora, o meu bronze é feito debaixo de uma lampada fluorescente,14 horas por dia, a ver o sol através da janela e a levar com os raios de luar no curto espaço que levo a sair do trabalho para entrar em casa.