Com a febre dos casórios que nesta altura do ano começa a assolar por aí, entrego me a devaneios pouco ou nada católicos. Enfim que dizer quando todos os vizinhos da rua onde nasci e com quem brinquei já deram o nó?Sou a solteirona inveterada do bairro mas não me importo!
A minha mãe, de cada vez que regressa de uma festa de casamento, vem de lá inspirada. Lá vai lançando a escada e sondando as perspectivas de um futuro casamento de um dos seus rebentos. Quiçá já se veja a verter as lagriminhas da praxe sentada no primeiro banco da igreja ou já ande a fazer contas ás despesas. Eu, como não a quero desiludir, lá lhe vou dizendo, em jeito de consolo:
-" Um dia... um dia destes... lá mais para frente,agora ainda não!"
-" Um dia?! Um dia quando? Quando tiveres 50 ou 60 anos?"
-" Maybeeeee...why not? Para se cometer asneiras e nos enforcarmos, os 50 ou 60 anos são tão bons como quaisquer outros"
-" Aiiii...era a maior alegria que davas os pais, entrar na igreja vestida de branco e tecatecateca..."
Aiiii! Socorro! Parem tudo! Igreja?! Aquela cena foleira do " vou ser-te fiel para sempre...blablabla... quando estiver a respirar saúde e também te aturo quando estiveres doente e fores mais chato que a potassaaa....?"Estou fora! Em primeiro porque não acredito nesses votos e segundo porque um casamento pel igreja é deveras entediante. Até que chege a parte interessante, já se dormiu para aí meia hora.
E depois (penso cá para com os meus botoes) acho que é necessário frequentar um curso qualquer de preparação matrimonial durante não sei quanto tempo, não sei quantas vezes por semana. Mas que raio de curso é esse? Quais serão as disciplinas? " Como preparar o seu marido para as tarefas domésticas?", " Como reagir ás dores de cabeça da mulher"; Como partilhar tarefas sem conflito" ou " SPM- Dez regras de ouro". Se fosse qualquer coisa nestes moldes, ainda pensava duas vezes. Caso contrário corre-se o serio risco de se mandar o casamento ás malvas. Mas não, obrigada. Não preciso que um homem de saias me venha dar nas orelhas e advertir me para a xeriedade do casamento...zzzzz... e do compromixo...zzzz, como se eu já não tivesse idade para saber aquilo que quero.
Ná, ná, ná!!!Se um dia me casar( e digo "se" e não "quando", porque isto não é uma questão de tempo mas sim de probabilidade) a coisa será cá á minha maneira, que eu cá é que sei (ou não fosse eu uma criaturazinha de ideias fixas e obstinadas). Nada cá de padres a palrar no púlpito, nem criançinhas a ler os salmos ou musiquinhas de louvar a Deus. Quero uma coisa simples( sim, sei que é um cliche, todas as noivas dizem isso e depois atafulham-se em vestidos cheios de folhos e rendinhas). Uma cerimónia simples, com poucas pessoas, apenas com o represante do cartório, uma passadeira vermelha e umas quantas pétalazinhas de rosas espalhadas por aqui e por ali (pronto! começa a simplicidade!).
Requisitos fundamentais:
- Vestido de noiva maravilhoso de princesa Cinderela - SIM
- Noivo igualmente nos trinques ( não se admitem vincos no fato) - SIM
- Mãe a chorar no primeiro banco da igreja - SIM
- Fotografo para registo para a posteridade - SIM. Aiii de mim! Eu que sou uma piscarolha e que fico sempre de olhinho a tremelicar em todas as fotos, nesse dia terei que enfiar com um palito entre as palpebras para manter sempre os olhos abertos.
- Fiesta depois - SIM. Se bem que eu acho que nesse dia vou apanhar um pifo monumental e o meu então marido terá que me levar a braços, ligeiramente alcoolizada para a lua de mel, que será numa ilha qualquer exotica (simplicidade, claro!!ei-la!)
Não sei se partilham do meu ponto de vista, mas normalemente quem se diverte sempre mais nos casamentos, são os convidados e não os noivos. E porque? É a festa deles, pelo amor da santa!!!Os noivos têm milhentos afazeres nesse dia: sorriem para aqui, beijinhos para ali, cumprimentam uma tia que nem sonhavam que existia.
Ela derrete-se dentro do vestido e borra a maquilhagem com o suor e ele entra em combustão dentro da farpela, com os gasganetes apertados, enquanto estão parados debaixo de um sol abrasador a fazer pose para as fotografias com todos os 300 convidados e depois á noite ainda têm que dançar com os parentes que já estáo com o grão na asa. Pronto! Isto é o principio da decadencia... se a coisa começa assim, nem imagino como será 20 anos depois. É por estas e por outras que o casamento para mim é assim tipo como ganhar na lotaria: imagino muitas vezes como seria, mas se-lo ao certo, é... extremamente improvavel.